segunda-feira, 12 de março de 2018

O amante excessivo

Cecil Beaton, Fashion Model, 1950s

Há amores que são excessivos. Foi assim que ele começou a conversa. A princípio fiquei atónito, pois não esperava uma confissão, mas logo me recompus. Contou-me como tinha conhecido a mulher, a paixão que dele se apoderou. Não escondeu sequer alguns episódios picarescos, embora nunca tenha exposto a intimidade desse amor. Descreveu o casamento durante horas. A passagem dos anos não saciou a paixão, confessou-me. A dela, não sei. O que ele me contou foi que, um dia, a mulher lhe disse: o teu amor é excessivo para mim. Nesse instante, alimentada pela obsessão dele, ela começou a desdobrar-se. Primeiro, uma sombra, depois um vulto, por fim outra mulher exactamente igual a ela. Hoje, não sem felicidade, vivem os três.

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