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domingo, 26 de julho de 2015

A solidão no monte

Henri Matisse - The Sorrows of the King (1952)

Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l'O para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte. (João 6:15)

Platão ainda viveu a ilusão do Rei-Filósofo, a possibilidade de compreender o poder como o lugar da justiça e do bem. Cristo, porém, não tem qualquer ilusão. Perante a possibilidade de ser aclamado rei, retira-se para a solidão do monte. Este gesto de recusa do poder não é importante apenas para compreender a figura do Cristo. É decisivo para se perceber a natureza do poder. Mais decisivo, contudo, é aquilo que é contraposto à ocupação do poder, a solidão no monte. O que significa isso? O monte simboliza a possibilidade de ver de cima, de compreender, de perscrutar o horizonte, de contemplar. A solidão do monte diz-nos que, para o homem, a contemplação é o bem mais precioso, infinitamente mais precioso do que o poder.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Da acrobacia espiritual

Marino Marini - Acrobats (1960)

Muitos deixam-se seduzir pelas acrobacias do espírito, seja pela capacidade de cálculo e de argumentação da razão, seja por hipotéticos poderes espirituais. A vida espiritual não é, todavia, uma exibição do esplendor circense do ego. A única acrobacia verdadeiramente difícil, e útil, é o ater-se à realidade tal como ela é. Melhor, tal como ela brota a cada instante.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Os lugares desertos

Mark Rothkovich - Untitled (1961)

Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel. (Lucas 1:80)

Aprendemos que o deserto é esse lugar onde o espírito se robustece e aquilo que é pequeno cresce. O deserto não é um lugar de fuga, mas de preparação, como se o preparar-se exigisse sempre o esforço da solidão e o confronto consigo mesmo antes de entrar no espaço partilhado com os outros. Tornar-se forte para dominar? Não, tornar-se forte para poder viver entre os fracos e os dominadores, sem temer ser uns nem desejar ser outros.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Um grão de areia no deserto

Frantisek Kupka - A via do silêncio (1900)

Qual é o poder do silêncio? O poder do silêncio é a sua impotência. O silêncio enquanto silêncio não tem poder. O silêncio puro é impotente. (Raimon Panikkar, Mystique plénitude de Vie)

Raramente reparamos que a palavra, o uso da palavra, é uma forma de potência, apesar de nunca esquecermos de sublinhar o poder da palavra, sobre o qual se constroem inúmeros desvarios. O silêncio não é apenas impotência, mas convite a uma atitude essencial, convite à perda de poder. Só pode abdicar do poder aquele que alguma vez o teve. Quem escolhe o silêncio não é o que está impedido de falar, mas o que, tendo a potência do logos, dela abdica para se tornar um grão de areia no deserto.

sábado, 28 de dezembro de 2013

A onda e a vida

Frantisek Kupka - The Wave (1902)

Pensar a vida a partir da metáfora da onda. Como deve o viandante lidar com a onda? Enfrentá-la a pé firme? Cavalgá-la como um surfista? Atravessá-la como um exímio mergulhador? Não, o caminho do viandante não é o do poder nem o da dominação, tão pouco é o da destreza. A força para nada lhe serve e a habilidade não o salva. Ao viandante resta-lhe ser onda na onda, vida na vida.