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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Como uma semente

Ismael González de la Serna - A semente (1929)

A vida do espírito é como a semente. Necessita de se ocultar para depois se manifestar em todo o seu esplendor. Tudo o que é grande nasce daquilo que é pequeno e secreto, e no segredo dessa pequenez acumula força e energia para vir à luz.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O segredo do amanhecer

Guillermo Trujillo - Amanecer Chocoe (2000)

Há um momento do amanhecer em que tudo parece suspenso. A luz e as trevas travam uma dura batalha pela vitória. Nesse momento de indecisão, aquele que toma a natureza como um símbolo a meditar encontra um segredo. Não um segredo que esteja oculto e que a curiosidade pode revelar. Encontra um efectivo segredo que está velado e sobre o qual não há revelação possível. O segredo é o da estranha fraternidade entre luz e trevas, o das suas núpcias nas horas indecisas dos crepúsculos. Aquilo que não tem revelação é aquilo que dá que pensar, mas o pensar é ainda e só uma preparação para enfrentar o mistério, perante o qual a razão experimenta o seu limite e a sua impotência.

sábado, 31 de janeiro de 2015

O ardor silencioso

Tal-Coat - Do ardor (1972)

Não é a impassibilidade dos estóicos que o viandante busca, tão pouco é o entusiasmo dos exaltados aquilo a que aspira. Na viagem, procura o ardor silencioso que move o coração e que, preso ao segredo que o habita, ilumina o mundo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Castanheiros em flor

JCM - Mitologias (castanheiros em flor) (2007)

São efémeras as florações, mas trazem nelas a promessa de um novo florir. Uma ilusão seria pensar que cada novo florescimento é a pura repetição do anterior, num ciclo de eterno retorno do mesmo. Também o viandante, na viagem que é a vida, floresce uma e outra vez. Mas, como o castanheiro em flor, a cada novo florir ele dá um passo em frente no caminho para o segredo que transporta consigo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Na terra devastada

Man Ray - Waste Land (1929)

Não fugir. Insistir, permanecer na terra devastada, deixar que ela traga até nós as primeira palavras, que abra a bolsa onde guarda os segredos e nos deixe espreitar. Ali, onde a terra foi devastada e abandonada pelos homens, também é lugar de viagem. Melhor, é sítio de peregrinação e de espera. Espera que a terra fale e a verdade, abençoada pelo silêncio, se revela.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O secreto e o manifesto

Jacinta Gil Roncalés - Hipócrita (1998)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. «E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» (Mateus 6,1-6.16-18) [Comentário de Bento XVI aqui]

Uma das leituras possíveis do evangelho de hoje, Quarta-feira de Cinzas, é dada pela tensão entre dois pólos. O público e o privado, o secreto e o manifesto. A vida espiritual é marcada pela sua realidade interior e o segredo é a sua natureza. O segredo não resulta de uma decisão de exclusão do outro, mas é a própria operação do espírito, na intimidade de cada um, que é secreta, que não pode tornar-se pública sem que se degrade e se torne numa outra coisa, por vezes mesmo, como salienta o texto de Mateus, no mais claro exercício de hipocrisia. 

O espaço público é o lugar dos negócios deste mundo, o sítio da pólis e da economia, mas também o palco onde nos apresentamos enquanto pessoas. Apresentar-se enquanto pessoa não é apenas manifestar uma dignidade proveniente da nossa natureza racional. É também apresentar-se enquanto persona, enquanto máscara teatral. Este ser pessoa, com a sua dimensão de máscara, torna claro o que há de pura representação na vida pública, no teatro a que chamamos esfera pública.

 A vida do espírito é uma vida de presentificação, de tornar presente, e não de representação. O caminho é o de abandonar, passo a passo, a persona e apresentar-se na nudez e solidão do seu próprio ser. Nudez significa aqui a verdade de si mesmo, sem filtros, sem velamentos, sem a distorção que a relação com os outrosa exige ou, no mínimo, impõe.

Implica a vida espiritual uma fuga mundi? Não propriamente. Implica a separação clara das águas, a compreensão de que nas coisas do espírito a verdade e a autenticidade são os elementos centrais. Pode implicar mesmo uma presença no mundo, no espaço público de representação, como sinal e símbolo de uma outra possibilidade que ultrapasse a hipocrisia das máscaras individuais e distorção das ideologias, autênticas máscaras sociais. Isso será tornar manifesto um caminho secreto que cada um, no silêncio e na solidão, deve procurar.

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Nota: Com este post inicia-se uma série de comentários ao evangelho diário da liturgia católica. Este projecto durará, se tal for possível, o período da Quaresma. Sublinhe-se que não se pretende nem uma interpretação litúrgica nem teológica, para as quais não se possui competência. Os comentários visam uma confrontação dos textos com uma via espiritual que não abandona a razão e o exercício do pensamento filosófico. Os textos do evangelho serão sempre seguidos de um link para um comentário autorizado, do ponto de vista eclesial, desses textos. 

domingo, 31 de maio de 2009

Segredo

Ser-se si mesmo. Mas como ser si mesmo se não sei quem sou? A resposta, porém, não está no "conhece-te a ti mesmo" socrático, mas no esquecimento de si, nesse mergulhar na escuridão e nela encontrar aquilo que em mim é mais do que eu. Ser si mesmo então é ser mais do que eu, é ser pura e simplesmente, é abrir-se, romper a clausura do ser e deixar que ele venha. O meu segredo é não ter segredo nenhum, mas ser todo e completamente secreto. Ser-me é ser o segredo que me habita.